sábado, 30 de abril de 2011

As Lições de uma escola: Uma ponte para muito longe...

Não cobiço nem disputo os teus olhos
não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos
nem sei tampouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos.
Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo
se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo.
Não me digas como se caminha e por onde é o caminho
deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser.
Se o caminho dos teus passos estiver iluminado
pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias
mesmo que tu me percas e eu te perca
algures na caminhada certamente nos reencontraremos.
Não me expliques como deverei ser
quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre
no espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas
semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas.
Não me prendas as mãos.
Não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi.
Deixa-me arriscar o molde talvez incerto
deixa-me arriscar o barro talvez impróprio
na oficina onde ganham forma e paixão
todos os sonhos que antecipam o futuro.
E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei
nem queiras que eu saiba o que eu ainda não sou capaz de interrogar.
Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta
e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos
ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida.

Vemos para fora e vemos para dentro.
Fora, vemos apenas o que de efêmero se vai oferecendo ao horizonte dos nossos olhos. Dentro, tendemos a ver o que não existe, freqüentemente, o que desejaríamos que existisse...
Mas sendo embora aquele que, por inventar o que não existe, antecipa e germina o futuro.

                                                                                           Ademar Ferreira dos Santos

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