segunda-feira, 25 de abril de 2011

TELEVISÃO, JANELA DE VER O MUNDO


 
Em um ensaio publicado recentemente na revista Veja, Roberto Pompeu de Toledo chamou a atenção para o espaço cada vez mais onipresente ocupado pela televisão em nossas vidas.
O televisor deixou de ser um simples aparelho doméstico, esquecido num canto da sala, para ocupar o centro das nossas vidas.
O cronista Stanislaw Ponte Preta cunhou nos anos 60 a frase famosa sobre a televisão (não, não foi Fellini quem disse): Televisão é uma máquina de fazer doido.
O idioma alemão tem uma forma filosófica para denominar o aparelho de televisão, bem diferente dos demais idiomas ocidentais.
Na língua de Goethe e Schiller, o televisor é chamado de fernsehen, ou, literalmente, janela de ver.
Na década de 70, o intelectual francês Guy Debord chamou a atenção para a crescente transformação da sociedade em espetáculo, um fenômeno que passaria a ser fartamente explorado pela mídia de massa em décadas posteriores.
A crítica de Debord saiu no livro “A Sociedade do Espetáculo” e foi imediatamente absorvida por vários teóricos em diversos países.
No Brasil, um trabalho recém lançado, de autoria do jornalista José Arbex Jr., denuncia a estratégia dos mass media em utilizar a notícia como espetáculo.
No livro Showrnalismo, Arbex deixa claro que o interesse da mídia recai fundamentalmente nos assuntos com conotações de espetáculo.
No ensaio “Existe Vida Fora da TV?”, incluído no livro “A Saga dos Cães Perdidos”, o professor Ciro Marcondes Filho traça um vigoroso painel do papel da televisão contemporânea.
Ciro demonstra que a televisão apropriou-se das técnicas de cinema (angulação, travellings, zooms), combinando-as com uma linguagem jornalística visando transformar a notícia em show, em espetáculo.
A revista Cult publicou em seu número 62 uma ampla reportagem cujo tema é o telejornalismo produzido pela televisão brasileira nos últimos 10 anos.
A reportagem, intitulada “Telejornalismo: a informação em pedaços”, mostra como a televisão brasileira tem segmentado a notícia, oferecendo-a em fragmentos a uma grande massa de telespectadores, procurando atingir um público cada vez maior.
            Fragmentação, descontextualização e velocidade são termos que se aplicam de forma contudente à televisão contemporânea. Televisão não foi feita para nos fazer pensar. A rapidez com que as informações são transmitidas não deixa chance para qualquer tipo de reflexão. Essa característica do meio TV recebeu uma crítica ácida do intelectual austríaco Karl Popper.
Popper alerta para os riscos que a televisão pode trazer à democracia, uma vez que impede o desenvolvimento da reflexão, já que tudo se dá de forma veloz, não permitindo a assimilação das informações e sua digestão crítica.,
A televisão brasileira especializou-se num tipo de programação escatológica: quanto mais violência, melhor, quanto mais grotesco, melhor. De tal modo que o tema mereceu um tratamento crítico por parte do professor Muniz Sodré.
Em seu livro “O Império do Grotesco”, Sodré elabora um vasto painel mostrando como o culto ao grotesco tem sido amplamente explorado pela televisão ao longo das últimas décadas.
Em entrevista concedida à revista Imprensa, edição 177, a repórter Neide Duarte critica a linguagem dos telejornais. Para Neide, subestima-se o telespectador, atribui-se muita importância à imagem, em detrimento do bom texto.
Eu não acredito nesta história de que uma imagem vale mais que mil palavras. Não tem nada a ver. É justamente a palavra que faz a diferença. Este tipo de texto pode ser usado em qualquer matéria, por menor que ela seja. Tem que buscar a palavra exata, a melhor palavra.
Optei por um mosaico de idéias e informações para abordar, brevemente, o tema televisão, porque é assim que esse meio tem apresentado a informação a uma grande massa da população.  Não que esses atributos sejam exclusivos dessa mídia, a fragmentação da informação é uma das marcas da contemporaneidade, da chamada cultura de massa. Mas talvez nenhum outro meio tem apelado de forma tão incisiva para a espetacularização da notícia quanto a televisão, exatamente por deter os atributos da imagem em movimento, ocupando no imaginário das pessoas um espaço que antes cabia ao cinema.
As emissoras de TV, seja uma CNN, uma Globo ou uma Al Jazeera, especializaram-se em forjar emoção através do recorte da realidade, particularizando o fato mais apelativo e mais propenso a agradar um público sedento por fait-divers. Técnicas de angulação e edições cirúrgicas têm garantido a uma grande massa de pessoas doses generosas de um espetáculo renovado diariamente, entretenimento passageiro, emoção efêmera. Com a palavra, Ciro Marcondes Filho:
A audiência de televisão é uma experiência diária de entropia: quantidades imensas de trabalho , material, montagens, roupagens, cenários são diariamente reduzidos a pó na memória do telespectador.
Uma máquina incessante de fazer o nada.

De Paulo Lima

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