sábado, 21 de julho de 2007

Adesão ou Conversão?

Por Carlinhos Veiga

A Ultimato é, sem dúvida nenhuma, uma das melhores revistas
evangélicas brasileiras. Ela sempre traz em suas páginas assuntos
pertinentes para a igreja dos nossos dias. No seu número
setembro/outubro de 2001, publicou um artigo chamado "Monique Evans
ainda está longe da terra prometida". O título pode até soar
estranho para alguns ou mesmo parecer um julgamento pesado, mas não
é. Garanto que vale a pena ler. O tema desenvolvido ali defende a
tese de que "nesta época de euforia e de ênfase à conversão de
celebridades e de multidões, a igreja evangélica brasileira precisa
redescobrir o significado da palavra conversão".

É um texto muito mais elucidativo que condenatório.

O que significa conversão para nós? Eu ainda peguei um tempo
onde ser "crente" implicava em muitas perseguições, inclusive na
própria família, além de preconceitos, chacotas, humilhações, entre
outras coisas. Lembro-me, nos meus tempos de novo convertido, de um
grupo de jovens que foi pregar numa cidade do interior de Goiás e
foi expulso a pedradas e pauladas. Fatos que ocorreram há menos de
20 anos. Se conversarmos com os irmãos mais antigos de nossa
comunidade, ouviremos histórias que nunca imaginaríamos que pudessem
um dia ter acontecido.

Mas, o tempo é outro. A igreja evangélica ocupa hoje um
lugar de proeminência na sociedade. Seu crescimento vertiginoso
chama a atenção da mídia e, consequentemente, da população em geral.
Para dizer a verdade, ser crente hoje até dá um certo status. Nos
bancos, ou nos púlpitos das igrejas, estão assentadas pessoas
importantes, astros e estrelas da TV, personalidades do mundo
esportivo, músicos do show bussines. A própria igreja hoje fabrica
os seus ícones. E nesse entorpecimento da fama, gerado pela ação
midiática, muitos são atraídos para as fileiras das igrejas. Como
foi muito bem colocado pela Ultimato, "é preciso fazer séria
diferença entre adesão e conversão. Adesão é o ato de abraçar uma
causa... conversão é um acontecimento que imprime novos conceitos e
nova vida".

Conversão, segundo D.G. Bloesch, "é a invasão da graça
divina na vida humana, a ressurreição da morte espiritual para a
vida eterna". Quem inicia a obra da conversão é o próprio Deus,
nunca o homem. Assim, a conversão só pode ser entendida como uma
resposta humana a um chamado divino. Não é o homem quem decide
aceitar Jesus como seu Senhor. Ele na verdade está simplesmente
respondendo à graça irresistível de Deus.

A conversão possui dois aspectos distintos que precisam ser
levados em consideração nesses tempos de tanta confusão. Esses
elementos são o arrependimento e a fé. A verdadeira conversão vem
atrelada a essa dupla inseparável. Enquanto o arrependimento é o ato
de se dar as costas para o pecado, a fé é o ato de se voltar para
Cristo. O arrependimento significa a mudança que é produzida na vida
daquele que se encontra com Jesus, levando-o ao abandono ou ao
repúdio do pecado. A fé é o ato de se apossar das promessas e da
obra de Cristo. Na genuína conversão, um jamais existe sem o outro.

Porém, o que temos visto é muita "conversão" e pouca
manifestação de arrependimento e fé. A conversão que não reflete
esses dois elementos produz um cristianismo espúrio. Segundo Valdir
Steuernagel, "uma igreja que cresce e que não tem impactos de
justiça na sociedade sofre de um crescimento enfermo".

A conversão que Deus exige é uma radical mudança no modo de
pensar e de viver: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem
cancelados os vossos pecados" (At 3.19). O povo do Senhor deve ser
caracterizado por uma vida santificada aos Seus pés, longe do pecado
e de práticas que maculem sua comunhão com Ele. O pecado não é
compatível com o nosso amoroso Pai. "Deus é luz, e não há nele treva
nenhuma" (I Jo1.5).

"Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está
perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos;
converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o
nosso Deus, porque é rico em perdoar". Is 55.6,7

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